O ano foi passado numa avenida com um Cristo ao fundo de braços abertos e anca meio reclinada. Para o Artur, a figura estatizou-se ao som do Y-MCA. As bolivianas empiriquitaram-se de branco, bem mais altivas e senhoras do que as que vimos em Los Pozos. Na verdade , à medida que andávamos pela avenida, as bolivianas pareciam menos bolivianas. Entre restaurantes a monopolizarem o espaço, cruzavam-se uns gajos bombados, a saírem de uns brutos carros agarrados a barbies importadas. Se as cholas não continuassem ali, a pedir ou vender merdices na rua, diria que estava em outra cidade. Bombinhas a estourar por todo lado e sem contagem decresente, estamos em 2014. Pouco depois, olá cama! Ha duas noites que eras assento. Ainda assim, nao por muito tempo. Tinha feito umas negociações com Suzana na rodoviária , nativa de grande porte, voz grossa e unhas rosa choque, paguei-lhe um bilhete pra Sucre para dia 1, feriado. O combinado era ligar as 7h a saber se havia ou nao o cenas. Portanto, com poucas horas de sono, liguei á Suze. Nao me atendeu , nenhuma das 3 vezes. Mandei-me pro terminal com o Artur e o Rafa, ainda sem bilhete. Nada de Susana. Muita fome. O jantar da passagem tinha sido no supermercado, agora fechado, tal como tudo resto. Cabanos em los Pozos. Outra vez . Um los Pozos surdo e mudo, de poeira assenta e prateleiras vazias. Arranjamos pão e fruta , voltamos pro hostel a acordar as outras duas chicas para manjar.
Umas horas de sono e finalmente ouço a Suzana toura do outro lado. Peixeira Mode, a mandar-nos pra lá logo ou venderia os nossos bilhetes.
Tudo de boa, chegamos e ainda deu pra um.. Frango, como sempre, aqui so se come frango.
O almoço ainda deu para o Thiago, brasileiro viciado perdido na rua , que nos avisou do perigo boliviano quando passou um grupo de putos arroaceiros ainda meio bêbados .
Ja depois do Thiago e prestes a ir pro autocarro, a manada surge de volta , e o boss, por volta dos 21 anos, uns óculos amarelos muito feios, mandou-se a um homem encostado a uma mesa no fundo do tasco. Deu-lhe uma cabeçada por um cinto de cabedal. Partiu-lhe o nariz. Ele tombou encima da mesa. Partiu a mesa. Deixou umas lagrimas escorrer, limpando baba e sangue.
Nos ficamos quietos, eles afastaram-se ainda a mandar umas dicas.
E ninguém fez nada . Ninguém fez nada.
II
Depois de tudo, partiu autocarro.
De uma ou duas janelas partidas disfarçadas com plástico, o semi cama era para mim pseudo banco. Duro pra cacete. 16 horas
De noite, na montanha, com putos a dormirem no corredor e cholas a darem de mamar aos pequenos ali mesmo. Nao ouvi nenhum deles chorar, reclamar ou bufar .
Tudo de boa, a abanar em sintonia. Em dois buracos fui ao tecto. Se nao tive um trem da morte, a Bolívia deu-me um onibus da morte. Uma altura , tava o precipício do meu lado direito, um monte de terra do lado esquerdo e o gajo subiu aquilo TT style.
O truque era nao olhar , tentar dormir, em vão.
Valeu o céu, que nunca vi tao bonito, valeu a parada no meio do nada, num casebre com uma casa de banho agreste , frango pra jantar e uma jukebox que deixou um puto boliviano de olhos fixos ba publicidade porno. O Artur salvou o dia e meteu moeda para um Justino Timberlake.
Muita qualidade .
Num quarto de dois para 5 tomarem banho, ta na hora de fazer a mochila e partir para o Salar, em mais uma noite num semi cama.
Sucre esta limpo, bonito, direito e civilizado.
A verdade é que o cansaço nao deu para muito, com alguma pena.
Creio que serão dias sem comunicação , os próximos.
Saúde
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