terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Santa Cruz de la Vida

Quijarro foi ontem sacudido. A temperatura bateu os 42, a recepção esteve nos -43 , tanto no primeiro alojamento onde nos rejeitaram um quarto, quer pra banhos como pra mochilas ( e segundo a Luana, porque o Artur tem aquele porte de cavaleiro , de barba por fazer e cabeça que já esteve mais longe da nudez e pausar o traficante) como no tasco onde nos queriam chular pelo wifi e acabaram a chular no almoço , que era pra 10bolivianos e deu nos 30 Ou seja , na volta dos 3€ por uma sopa de milho quente, com tora! , mais uma pratada de frango com salada e afins, e uma mousse não sei do quê. O que estragou tudo foi o guaraná, mas com brasileiros ao lado, não dá pra dizer que não à coisa.
Tudo isto a fazer tempo pro trem, que ainda valeu uma caminhada até a "já ali" que se revelou um "esta merda nunca mais acaba" debaixo de um sol de queimar pêlo de braço. Fomos apanhar o carimbo que faltava no passaporte da Rita e voltar de táxi nem esteve aberto a discussão .
Nos entretantos lá apanhamos o trem.
Não haviam galinhas a voar , ninguém tinha cara de drogado, havia sanita. Mais : os bancos reclinavam, e havia televisão . Te-le-vi-são! A única coisa de morte neste trem eram os videoclipes a passar. Mãe, deves ter rezado bem. A Ferroviária Oriental investiu numa limpeza de prestígio , e lá me limparam 30€, uma sandes, e o sonho de Indiana Jones bolivian style.
Chegamos hoje de manhã a Santa Cruz , onde apanhamos um autocarro , que basicamente são umas potentes carripainas, a fazer formigueiro na cidade com gajas nuas coladas no vidro e as portas a cair, até ao hostel.
Pousadas as coisinhas , houve leite com café a queimar, mais um croissant modo por 70centimos. NHAMI! partimos para Los Pozos, o mercado.
Cholas de caras rasgadas por marcas solares , com aqueles olhos a perderem-se entre as rugas, a venderem milho, abacaxi , batata e eteceteras , ocupavam-se em esconder da câmera , ás vezes a enervarem-se. O não era sempre garantido, dito da mais curta forma possível. Uma ainda me deu uma trela, expliquei que era para os meus pais verem , que eu tinha vindo de longe , que ela era linda e poderosa , mas nem se eu comprasse trinta kg do que ela vendia ela me deixava leva-lá pra casa em .raw
Quando entramos no coração do mercado , em hora de ponta do estômago, com os queridos quarenta graus e pico, foi um enterrar num labirinto sob nuvem pesada de suor, correria, restos de frango, queijos a apodrecer , mãos na massa. Melhor; mãos ná carne. Paletas quase a cair no chão que há anos não tem tempo de secar.
Todo o Chavalo fica curioso , a fitar 5 gringos: duas loiras, uma morena, dois pinta de traficante.
Metem-se a fazer poses , a mandar uns assobios , a tentar vender da banca dos papitos.
Só eles é que nos disseram bienvenidos, em nome dos pais , que são só tímidos e desconfiados.
Bilhete para Sucre adquirido pra amanhã as 16h . Para hoje , vamos numa nova abordagem entrar em 2014, primeiro com um jantar de supermercado , depois com uma mescla forçada perto da praça, a ver se à noite e com foguetes a malta é mais amistosa. Santa Cruz ainda tem para dar.
A 15 minutos da virada tuga , fiufiu para todos do outro lado do oceano, sem passas nojentas , e com abraços koala.

Tchim Tchim de Santa Cruz desta vida












segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Uno

Abri a conta do gmail. O Google pede uma confirmação de identidade , motivo : localização invulgar.
Como pode ser invulgar que eu esteja a morrer de calor sentada à porta de um hotel de nome Liloko , com 3 pais Natal na entrada e dois sujeitos, pai e filho , o Pai de barriga farta e chapéu verde, o filho com camisola do Qatar e 3 riscas rapadas de lado no cabelo, a mirarem-me na lata e em silêncio a um metro de distância.
Viemos procurar comida, mas o wifi falou mais alto.
Bilhete do trem da morte adquirido para as 17h, depois de o taxista insistir que onibus era melhor opção, o das 11h estar magicamente esgotado e o sistema na bilheteira deixar de funcionar.
As mochilas ficaram com um puto boliviano e o seu piriquito que poisou de mão em mão, Dakota.
De duas nos fizemos 4, Artur fotógrafo e a sua girl Luana juntaram-se a nós em Corumbá, onde apanhamos mais 3 nao vacinados que voltaram pra trás e q esperamos ver hoje no comboio.
A Rita já conta umas picadas para me acompanhar, e as formigas vermelhas que estão agora a caminhar pela minha mochila  nem se incomodam pelas minhas sacudidas .

Puerto Quijarro
Terra molhada batida de passagem , crianças a chover, gente de olhos preto desconfiança, cães .





quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

um cá outro lá

Ainda não cheirei a Amazónia, já estou toda picada nas pernas.

A chácara, em Rolândia, perto de Londrina, é um poiso esquisito.
"Canto dos 5 irmãos", canto das churrascadas, das redes, da piscina, do nada fazer.
 Chegar, sentar, passar repelente, comer, levantar, passar repelente, dar um chuto numa bola perdida, passar repelente, molhar o pé na água, sentar, passar repelente, comer.
Sentada na cozinha de volta à cidade, com um meio bafo a entrar pela janela entreaberta, conto 21 pontos vermelhos nas pernas. É Natal.
Não parecia Natal até ao bacalhau.
Minto: Não parecia Natal até abraços que não eram os meus, orações distantes pra cacete.

Depois peguei nos 3 embrulhos que tinham vindo de Portugal por mão dos meus tios em Outubro, dentro da Eastpak do 9º ano, toda verde e azul com flores, mais  a adaptação mal feita do slogan da Harley Davidson "Live 4 ride, ride 4 live" escrito na bolsa de fora. Tempos de rebeldia.
Enfim, tinha pedido que fossem ao meu quarto e mandassem uma coisa minha, que possivelmente eu gostaria de ver aqui. Parece que a história acabou com o meu amado progenitor a tirar da porta do quarto a plaquinha cliché "Quarto da Inês", seguido de um sentimento de culpa com a sensação de que me tava a expulsar de casa. Então está bem, mandemos outra coisa: a placa ainda não foi reposta, até à data desta publicação.

Abri o primeiro embrulho debaixo de suspeita: Chega-me uma sapatilha converse branca, pé direito, completamente rota. Tempos de rebeldia. Eu queria envelhecê-las, a minha mãe lavá-las, modas das quais não me orgulho. Verdade é que nunca foram para o lixo, e que eu agora tenho um pé aqui, e outro lá, segundo a Dona Manuela.

Tenho mesmo, provou-se quando abri os outros dois livros, bem escolhidos, de onde me caem 3 fotos: Uma da minha mãe, uma no dia do meu 2º aniversário, '95, encima da bela da Suzuki que me leva numas curvas (saudade) , e outra a dar o abracinho ao paizinho nos anos dele, banco da cozinha.
Ganharam!! Até o André me deixou meter uma foto nossa em putos no facebook, "sem idenificar", claro.
Família.

É uma aproximação quentinha esta, de ninho mesmo. De não queremos saber sobre a metereologia do teu sangue, apenas que estás bem, e que estamos aqui para ti. De não importar o porquê ou o modus operandi, de não importar o entendimento que eu a início tanto me esforçei por transmitir e que, no final da contas, não importa perante algo tão grande, tão maior.
Afinal, um dos livros que mandaram é sobre o amor que se encontra em deixar ir









domingo, 22 de dezembro de 2013

fase 3

Bikini ainda molhado, a pseudo secar na janela da frente onde de manhã eu e o Rodras nos poisamos com o sol a bater de chapa e experimentamos comer bolinhas laranja que mancham e que o ramo da árvore entrega em mãos, quase dentro de casa. Janela onde ontem à noite o Rama se encostava enquanto decidia a banda sonora do churras. Janela por onde se atiraram esquecimentos para o pátio e olás ao sol nos últimos 4 meses.

Sento-me no puff para um skype relâmpago depois de ter deixado o sal da mole no chuveiro. As fotos na parede do quarto ficam para último. Lá conto uma mala a mais e um tempo a menos. Houve frio de inverno e de ar falsificado, macacos ninja, ressacados sem chave, chuva a pingar do tecto e amanheceres genuínos ao som de aves histéricas.

                Um sofá desnivelado na sala e um armário com meia porta é pouca coisa para dizer que aqui se viveu. E viveu sem internet uns 15 dias e sem frigorífico um mês.

 O 126 é só para duros, que o diga a rampa parede de acesso por onde entra o táxi que me atropela a aura ao sair de marcha atrás e assim percorrer toda a rua, obrigando-me a encarar de frente a mata a afastar-se, quando sempre que a via era em aproximação, num abraço diário de boas vindas, nunca o contrário.

                As nuvens cinza começam a cerrar. O tempo está igual ao do primeiro dia, o sentimento o oposto. Antero, taxista vizinho, leva-me ao terminal por 40 pila. Veio cá passar férias em 85 e não voltou mais. Ainda bem, se não quem me iria levar?
              
  Pelo caminho, uma UFSC deserta, um spot de caronas vazio, uma chamada do Pedro a apontar um regresso, uma rotunda inesperadamente familiar e uma carga de não largar. Desta vez não teve como só ir. Ir durante o sono da ilha, que confundia já com o meu.  

                A Michele pintou no terminal e ficou com as malas enquanto fui atrás de comida.
                Hora de ir atrás da linha. Tendo japonês na fila, encontro. Destino: Londrina

                De volta à terra roxa, mas por pouco tempo.





               


sábado, 30 de novembro de 2013

amanhã é dezembro

Já estaria na altura, e nem um arrepio de como seria. Tudo fugiu entre chuvas e pulseiras de argentinos e não consigo entender como é que as coisas acontecem, porque sempre que dou uma volta encontro vestígios daninhos da mesma gana, fervendo. Numa metamorfose deviam mudar aquelas coisas que nunca mudam, que nos complexificam o cosmos e defeituam a essência.
Mas na verdade nunca há um plano, pelo menos um que seja exequível, e isso dificulta as relações humanas. O calor de cá é diferente, a linha é outra , e deixei de acompanhar a meio, na parte de me suspender na corda com a ponta do pé direito. Tou só naquela de deixar cair. Deixar cair notas de dois reais, pontas espigadas, discursos entediantes e olás de batidinha. E depois? Depois aprender o domínio da slackline e mandar-me de peito à corda, voltar pra trás e pôr-me de pé, só com a ponta do pé direito.
Só aí , depois de não ir ao chão, é que se segue: foca um ponto. mas são tantos!

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

fav..comunidade. co-mu-ni-da-de

      O dia era para ter sido de praia, todo ele. Mas as condições metereológicas nesta ilha são imprevisíveis, tal como tudo o resto é. Então a Rita mandou mensagem, a guria é aprendiz de arquitecta e conseguiu um contacto para nos mostrar a favela do morro da mariquinha: "pártxiuu"
Troquei de calças 3 vezes. O meu conselheiro de moda barra surfista barra housemate disse nas primeiras que mais uma camisa podia ir trabalhar. "Hun. Muito Patricinha". Tá, vão umas de ganga. Ai, esperem, são Levi's..eeee tá um bafo lá fora, leggings sejam.
Diz-me o Conde que nem deveria ter o cabelo lavado.

      Subimos as escadas infinitas, num silêncio estranho entre arfares e um espanta espíritos numa casa gradeada. Só chutei que aquilo "era bom para os glúteos", dois risinhos, e a subida continua. Na mão, uma caixinha preta Panasonic para a Rita tirar algumas fotos. O Andersen encontrou-nos na entrada da favela.
      Ponto 1: " Não gostamos da palavra favela. Bem vindos à comunidade."

Na entrada, a lixeira comunitária, com recolha três vezes por semana. Claramente nenhuma delas foi hoje. À direita, mais uma estrutura manhosa a ser erigida. A vista? Linda. só linda.
Apetecia sacar de uma borracha daquelas metade para caneta metade para lápis, e com a parte mágica apagar os prédios da cidade, t-o-d-o-s. Deixava o verde e o azul, a Hercílio Luz, os barcos, e pouco mais: Voilá - a minha cabeça levou-me lá, e ficou bonito.
          "Esperem, ainda é mais bonita lá de cima" Mais cima? tipo cima cima?

Não era confuso, não haviam crianças, mulheres de língua comprida ou homens em tronco nu. Não se via ninguém. O Andersen explicou que tava na hora da lavoura: talvez fosse.
Bem devagar, continuamos a subida. Adivinho uma média de 4 blocos sobrepostos de cimento, 5 colunas por 3, a suportar as casas. "Cada um faz o que entende. Mestres de obras, sabe?" Sei. E a mesa que perdeu as pernas para dar suporte a uma entrada também sabia.

Entre vultos momentâneos nas janelas e degraus a pacotes, perdi a conta às obras dos Mestres. Nasciam casas por todo o lado. Mas a conta não se perdeu só aos degraus e às casas. Perdeu-se a conta às pessoas. Mercearia e lixeira isso sim, sabia-se decorado: uma de cada, para toda a gente. E os salgadinhos da Dona Maria, que saem 100 a 30 reais por encomenda.

Dobramos uma esquina. O Andersen cortou reto à esquerda - logo agora que estavamos a descer.
Ali estava ele, pomposo falcão, de calção beje e chinelo roto. Cara forçada de adulto de 14 anos a absorver a informação sentado numa pedra, com boa vista, tal como convém. "Olheiros" , como eles dizem. O puto olhava, mas de esgelha. Hora do retorno.

Subimos à humilde casa do humilde Andersen, estudante de Administração graças às quotas sociais. Desistiu de arquitectura na 6ª fase. Ele gostava de desenhar, e confundiu-se com um desenhador de casas.
Água fresca e a melhor vista de Floripa depois do Sambaqui. Diferença: aqui não se chega a pedir boleia.
Insistiu em controlar bandite, o cão que nem ouvi ladrar. Insistiu que havia um coração de um rei numa igreja em Portugal que queria ver e do qual eu nunca ouvira falar. D. Pedro, na Lapa. Confirma-se. Vergonha a minha.

Hora de descer depois do bate-papo com a prima de 15 anos viciada em anime e a avó que nos tirou uma foto com um poste à frente. Somos de facto bem mais lindos que a vista sobre a cidade. Era só puxar a máquina um bocadiiinho pra cima. Mas ela sempre esteve encima, na sua janela com o mesmo quadro de sempre, mais prédio, menos barco que passa. O bonito ali não era a cidade, eram as visitas.
Certíssima.

Não trouxe cicatrizes e histórias mirabulantes.
Talvez do morro da cruz, que ficou no ar para exploração, eu traga um cortezinho no dedo do pé ao tropeçar em tanta escada. nãoesquecerdeirdechinelo

Muito amor,






domingo, 3 de novembro de 2013

dê éfe

"Cidade sem ruínas" e com 360º de horizonte. Saio de avião do avião planejado, saio no assento 10D do voo JJ3109 vinda da Asa Norte, Bloco A, dum prédio com 6 andares sem barreiras, como manda o plano piloto. Brasília das não rotundas ou cruzamentos, sem passeios e onde ciclistas só ao domingo na pista fechada. Duas asas, 8km cada, e para aqui voaram sangues para poisar em saco eclético. A ordem chegou ao urbano caos, os sotaques misturam-se ao encaminharem-se para o ponto mais central da nação, à procura de não sei o quê: estranhamento contínuo em profundidade numa cidade sem acervo para a biblioteca. Bem vindos ao futuro do cimento. Tudo o que vejo é uma solução, talvez a mesma que encontraram os gregos. Tudo funciona, tudo faz sentido, tudo descomplexificou as buzinadelas. Há verde, há restauro, há vida activa. Há toda uma resposta estudada e genial que culmina em casas de vidro com aulas de ioga, em açaí ao pé do lago artificial, em minimalismo de traços e skaters com 4 anos.
Nada roça o parecido com nada. O mar não se vê de lado nenhum, o pôr do sol vê-se de todo o lado.
O longe parece perto, mas daqui ali foram sessentapila de táxi, com o motorista disposto a ensinar-me a língua do amor, e três brasileiras damas dos forrós a tentarem convencer-me que "chifrar" fazia parte da natureza. Mas só da mulher. Porque os namorados delas tão proibídos de sairem sozinhos.
Bom, pelo menos, pago o táxi, ainda deu pra uma picanha com mandioca na barraca de estrada, qual kebab ou cachorro.
                                                                                                        Intensa semana.
Assimilei um cruzamento de culturas dentro de um país como se fosse um choque interestelar. Aprendi imenso com as explicações aprofundadas e pacientes do Yuri de Salvador, com as dicas de moda da Karol de São Luís, com as selfies que tirei com o Lucas de Recife e com a postura de advogada efeverscente da Sofia carioca. Fui acolhida enquanto portuguesa de portugal, e o cansaço de repetir mil vezes o que dizia e ter de explicar as minhas melhores piadas compensou na hora de questionar, de ouvir, de debater, de me encaixar a realidade que me tem acolhido. Foram óptimos comigo, e senti uma ponta de orgulho de integrar aquele grupo, decidido e confiante, preocupado, conhecedor. Estavam ali por uma causa mais nobre, e espero que a avioneta aproveite estes pilotos: dos plenários à happy hour. "Happy Hour" a forçar os novatos a agirem como pseudo funcionários públicos do distrito federal. Não importa, porque o Jonas tá lá pra tirar bilhete, o Caio tá lá para partilhar umas batatas nojentas com um queijo manhoso, a Rapha tá lá pra invejar os meus ténis. Bora todos apoiar os índios!
Era a única animada com isso. Nunca tinha visto índios, ainda por cima dentro do Supremo Tribunal, com flashes por todo o lado e entre discursos exaustivos. A reserva raposa serra do sol discutia a demarcação de territórios. Estradas a cortar pelo meio, escolas. É complicadito. Estes são índios coca cola, que usam ipads e smartphones e conduzem jipões. Mas se assassinarem alguém, no Brasil, não são presos por isso.

Foi uma coça de informação.


Pedi uma esfirra ao calhas, e a gaja diz que " No sul não têm disto". Ouviu-me e achou pelo sotaque que eu era do Sul do Brasil. Sério? putz!
Comer no táxi - fartei-me de andar de táxi - e bora pra um estádio sem equipa de futebol ver aerosmith. Já tá a servir pra alguma coisa! Pena que lá de cima o som seja uma merda. Acho que deviam investir no futebol mesmo - oh wait..
Mais um pontapé brasileiro. Ainda por cima comem pipocas salgadas. blheeeck
No dia anterior tínhamos ido comprar os "ingressos pro show" e não "os bilhetes pro concerto". Crachamos num cafézito, com aquele cansaço de desabotoar camisa e tirar sapato que dá um arrepiozito estranho de adulto, estava eu a olhar pela janela do café, e vem a caminhar o Marlon.
O Marlon é um rapaz brasileiro, um guri, que foi estudar pra FCSH em intercâmbio. Acabou por ficar uns dois anos, a ultima metade em erasmus italiano. Da última vez que o vi, estava triste, cansado, farto - queria voltar para casa, em Santa Catarina. Pois é: tinha falado com ele umas semanas antes, e ele tinha-me dito que não estava em SC, não nos poderíamos encontrar. O gajo tava em Brasília, e eu também. O gajo tava a voltar para casa depois de um dia de merda num curso de merda, estava outra vez farto e cansado, mas passou ali, no momento do meu unhappy hour. Saí a correr dali, disparada, mandei um berro, ele hesitou. E depois eu hesitei "será que nao é?" Claro que era, PORRA. Não me reconheceu de imediato - porque eu era a Inês de pãofiel, como ele dizia, e não era suposto um cruzamento destes. Trouxe-o para dentro entre abraços e meios histerismos - porque eu nao sou dessas cenas e ficamos ali, só a aproveitar a cena, com um sorriso de orelha a orelha. Trocamos números, mas a minha vida foi demasiado randómica para um segundo encontro. Obrigada pelo alinhamento de cosmos. Soube-me pela vida!

Para rematar a semana, aprochegou-se o quentinho de uma família de sempre, de braços abertos para mim, até a Kitty cadela, que se empenhava em explorar  a minha mala. Fizemos grande rota gastronómica, assumindo que a portuguesa tá habituada a um certo padrão (a morrer por pataniscas). E, mais uma vez, marquei uma casa no meu mapa zuca, que sei que tem sempre  porta aberta. E o frigorífico.
Cheguei de lá em dívida, só paguei em canções e obrigados.
E em português.





                                                                                                   Catedral








                                            Museu Oscar Niemeyer





´
                                                       Memorial JK



                                                      Palácio Itamaraty
                                                      Senado Federal

                                                     Lucas de Recife

                                                                                                Yuri de Salvador

    Sofia meia de recife meia carioca meia portuguesa



sábado, 19 de outubro de 2013

distrito federal

como viu Leminski

"Em Brasília, admirei.
Não a niemeyer lei,
a vida das pessoas
penetrando nos esquemas
como a tinta sangue
no mata borrão,
crescendo o vermelho gente,
entre pedra e pedra,
pela terra a dentro.
Em Brasília, admirei.
O pequeno restaurante clandestino,
criminoso por estar
fora da quadra permitida.
Sim, Brasília.
Admirei o tempo
que já cobre de anos
tuas impecáveis matemáticas.
Adeus, Cidade.
O erro, claro, não a lei.
Muito me admirastes,
muito te admirei."

Leminski, Paulo
quase ontem

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

janeiro

ri
rio
random
randómico. Foi randómico
Depois de mil duzentas e cinquenta e seis horas para lá chegar com esforço de socialização e boa música nativa e ao vivo à mistura no autocarro, eis que me espera pão de ló de qualidade, num sábado abafado de manhã. Pica toda - mas pica falsa. O meu guia particular mandou-nos pra Floresta da Tijuca, depois do jardim botânico, o parque lage e uma água de coco, para um banho gelado que me esquentou o espírito. Miradouro daqui miradouro dali, uma subida - bem  subir - chega ao topo da bonita, pedra. A solução pro vento era colar na pedra de papo para o ar e ver a lua a dar os primeiros olás, com o sol fugir da Barra. Foi silencioso. Pacífico até, para o que veio a seguir de fineza e pose Copacabana style. Bom, nada que uma queda no meio das rochas ipanemáticas de madrugada pra chegar perto do sol outra vez e um pastel matinal de carne não resolva.
Cama: olá amorzinho trezentos anos depois. Mas por pouco tempo, o resto do sono fez-se em Ipanema. E, desta vez, mal me levantei da areia. Rochas? a minha mão esquerda diz "tô fora"
Depois é tempo de clichés, bora ao corcovado levar com um enxame de turistas a acotovelarem-te e sacudirem porque precisam vitalmente do espaço que ocupas. Eu própria consegui umas boas selfies, e uma foto de  uma lagartixa. A ela os gringos não acotovelaram, sortuda a mandar paleta lá na ponta com espaço só para ela.
Seguiu-se o pão docinho com um quilómetro de fila que me fizeram, por um lado, ver o anoitecer lá de cima; por outro perder o samba da pedra do sal. Oh well.. LAPA LINDA depois de um taxista me deixar perto de um cemitério convencido de que o hostel onde estavam os meus coleguinhas era encima de uma padaria de esquina. putamerda, ele tava mesmo convencido de que era.
Um hostel encima de uma padaria de frente para o cemitério: será que dava?
O que dava era em vez de turista ser lagartixa.



                                                                                                         corcovado

                                                        jardim botânico

 
                                                                                                 parque das lages

                                                          pedra da gávea

                                                                                                          corcovado

                              pedra bonita: vista barra da tijuca

                                                         Ipanema sunrise






sábado, 21 de setembro de 2013

Trovojarda

   Abriram as comportas , danem-se temperamentos. Se é o sol que de chapa me tenta , em vão, acordar ou o flash de um relâmpago metade homem metade nada, nunca , na verdade, importou. E o importante é-o cada vez menos. São coisas que acontecem pelo meio dos aceleras , talvez pela origem duvidosa da origem em si. Se chove e nos molhamos , tudo se seca à terra e ao ouvido, se o sol nos fraqueja o espírito , há que o recompor na noite, entre vestidos a rodar e varandas a quebrar.
  Não vale questionar quando se sabe a verdade e as coisas se desenrolam em dois dedos de prosa , três movimentos rotativos acelerados, e um ar distraído no fim , ao som da disritmia suave em voz de mulher na casa de senhora: Noca
   Depois cheguei e, ao atirar-me de costas, fechei os olhos. Quase amanhecia. So não fechou o quase porque quase adormecia. Em vez disso so conseguia ser acordada , com chuva , noite e sol e barulho e assobios. Não há alterações a fazer que não sejam detalhes, como as pontas do meu cabelo que já estão espigadas e os horários de não ir de autocarro .

Agora vou dormir,
Hipnotizada , pra acabar de vez com esta disritmia
Curar-me, chegada de porre lá da boemia




domingo, 15 de setembro de 2013

Sequência de camatrilharões

Costa da Lagoa, 12h do dia, 8 associados, 3 garrafas de água, 7km, 2 sandes, 1 mergulho, 3 sequências de camarão, 1 barco














                                                                         tudo desta vida