segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Relatos Amazónicos II

27 janeiro

As horas perdem-se
Entre dedos de pé
E cores destrocadas

O tempo
O alento
O tento
Ficaram
ficam
Atrás das árvores

A profundidade é em pedaços
Quedando-se em traços
De raios em rostos
E brilhos em olhos

Escondem-se cansaços
Apertam-se laços
Em casca de banana verde
Que se fez amarela
Durante sonhos de rede

Amazonas pisca tactos
E inunda letras soltas
ao dar-me voltas
e arredondar cacos
o amanhecer. o entardecer. a noite, o dia.

É amarzonas
É soliamares
Fui, sou eu











sábado, 25 de janeiro de 2014

Relatos amazónicos I

Chegadas a Iquitos já de noite no dia 21, foi na Quarta 22 que soubemos do Barco para o cruzamento das 3 fronteiras as 19h. Santa Rosa - Peru ; Letizia - Colômbia ; Tabatiga - Brasil, separadas pelo rio.
Pedimos a um mototaxi, entre os molhos que infestam toda a cidade, que nos levasse ao Porto. Debaixo deixa tosta que com certeza estava na escala dos 40 graus, dobramos uma esquina e entramos num portão com alguns anos e dois homens a controlar entrada.
Controladas pelos olhos de todos ali, maioritariamente homens sem camisola , descalços e a precisar de todos os banhos que nós temos precisado, entramos no barco que dizia Tabatinga .
Um formigueiro desses homens entrava e saia do barco, amontoando galinhas debaixo da escada, chapas metálicas , sacos enormes de cebolas e de seis lás mais o quê.
"Tienes que traer tu maca". Maca ? Mas que maca ?
Levou-nos ao piso superior , onde ja estavam umas redes penduradas. Redes. Tínhamos de adquirir a nossa cama para os próximos dias.
O gajo mandou-nos chegar as 16h, para termos espaço , porque aquilo ia encher.
Assim que chegamos , depois de um almoço rápido e de felizmente termos tido a ideia de comprar pão e enlatados , eu refiz a minha ideia de encher.
Os dois pisos estavam ja ocupados e meio que a custo encontramos um lugar para as duas no andar de cima. Ficamos por lá e aquilo deve ter triplicado de gente entre as 16h e as 19h.
Já não havia espaço para mais , e todos levavam grandes sacolas com mais mercadoria , desta feita pessoal. Todos bem abastecidos de comida, muitas cianças , inclusive bebés , e vendedores ambulantes que davam voltas ao barco vezes sem conta com refeições , redes, lanternas, e um etecetera de coisas potencialmente essenciais à vida no rio .

Dois moços, jogadores do Iquitos com destino ao campeonato nacional chegam e montam a rede quase encima da Rita. Juro que não via ali espaço para mais uma rede de dois. Mas eles inventaram-nos.
Digo quase encima , porque já perto da hora de saída, que se fez duas horas mais tarde que o suposto pelos carregamentos não cessarem, com manto nocturno já quedado e nós já meio a dormir , chega uma peruana e monta a sua rede literalmente encima da minha. A minha rede encostava na de um miúdo ao meu lado esquerdo , e ela conseguiu encaixar lá a coisa , bem esticada , de tal forma que depois de lá meter dois filhos, um bebé e uma chavalita, eu tive de passar a noite imóvel e dependente dos movimentos dos vizinhos .
Foi um rir tranquilo porque chegada a manhã, acordei na amazonia brava e assisti ao amanhecer mais bonito de todos.
6h da manhã e o barco agitava-se, dava a volta para para na primeira de muitas populações ribeirinhas pra deixar agua e combustível eu creio. Ditos adeuses e um homem a fazer a barba ao meu lado, foi só existir na maior paz  e apreciar a paisagem.

Um pão e um copo de leite que preferi não beber foi servido a umas 7h e à medida que o sol subia e as pessoas iam saindo dos seus casulos , as conversas começavam a cruzar-se.
Entre sorrisos , alguns acabam por ceder e meter conversa com as gringas . Como normal, julgam-nos brasileiras, e irmãs . Conhecemos Dani , vereador em Caballococha que explica que é assim, em ano de eleições as embarcações vão carregadas para as povoações .
Tem 5 filhos e duas irmãs roubadas por gringos franceses que se passearam ali assim como nós.
Ao pararmos em Pebas , com o barco logo infestado de vendedores , Dani deu-me uma mini tour pela pequena vilazinha. Arroz secava naquela que seria a pseudo avenida principal, onde ao fundo uma boa escadaria levava a uma praça com uma igreja de onde podíamos ver o formigueiro à volta do barco. Compradas umas bolachas era hora de regressar .
A senhora ao nosso lado tinha comprado um saco cheio de pães doces e ofereceu-nos
Estavam óptimos. Divorciada , estava com a filha ,Gabriela, que contava as horas para se encontrar com o pai na Colômbia.

Por esta altura , aparecem os primeiros golfinhos no rio e mais redes se amontoam no barco .
O ritmo é lento , que me parece uma forma de respeito ao que se vê em volta . Assim o barulho é menor. Pelo menos fora do barco. A terapia da paisagem é muito subtil de primeira mão , vai massajando os olhos e passando a mão no cabelo. Parece que vamos ficar ali para sempre numa forma que em nada incomoda .
Da rede para o banco , do banco para a rede , comendo o que se pode , dá-nos ba espinha uma sensação de alienação e de protecção natural daquela que os incas chamaram de pacha mama. A mãe terra aqui acolhe-nos exigindo pouco , só silêncio. Calam-se falas e pensamentos , abafam-se dispositivos eletrônicos, cancelam-se comunicações fora do barco , onde se forma uma familia temporária de gente que se apoia e abraça duas branquelas loiras

Estou na Amazónia




















Lima limado limão

Capital
AnaLi , sobrinha de Júlio, e um motorista nos aguardavam com a tal placa
Isto prometia para as duas probetanas.
Trocas feitas , de ondes e comos, ainda nos levou um quanto para chegar ao poiso de duas noites.
A casa do Sr Engenheiro era construída metade em pedra metade sob areia. Uma estrutura meia labiríntica, que faz da casa estilo caixotas mal montadas numa encosta nos arredores de Lima.
O recheio era caramelo : cerâmicas pré inkas, tapeçarias , e um tronco atravessado no tecto da entrada da sala bem parecido com o da minha cozinha. Saudades.
Como sempre , banho e comida eram as prioridades. Com a primeira consagrada e entre acotovelamentos dos festejos do dia da cidade, 18 Enero, fomos até ao aparentemente point da cidade, o hotel boulevard , para provar finalmente o famoso pisco souer. Fizemo-lo de 3 formas diferentes , doces e amargas , e acompanhamos com o pollo (como nao poderia deixar de ser), chicharron , queijo e umas azeitonas. AnaLi chamou as dias irmãs , que durante o pseudo jantar se esforçaram por projectar a nossa rota do dia seguinte , maioritariamente gastronómica.
Eu e a Rita morríamos de cansaço , e se havia um plano para depois do jantar , esmoreceu com as nossas cabeças no encosto do carro. Caímos que nem patinhas.
Alvorada no dia seguinte , com desayuno por conta da casa , e a primeira paragem foi a catedral, bem de passagem . Na Plaza de armas , que existe como exemplar em todas as cidades peruanas onde passamos, começava a decorrer uma cerimonia no palácio da presidência de troca de policia. Que é como quem diz, mudança de turno. Em vez de passarem o cartão , estes tipos levam uma hora de cerimonia , com. Jardins de infância e lares de idosos de lanche na mão tipo praça de alegria na bancada.
Penetramos na coisa , entram duas bandas , com policias passados a ferro segurando trombetas e saxofones encima de brutos cavalos ,  tao limpos como eles, de Whipala, bandeira andina, marcada na coxa .
Dão uns trotes , entram no pátio do palácio, fazem uns truques , batem-se palmas e deu, ate para a semana , literalmente .
Depois desta cerimonia nao prevista na nossa agenda, fomos por fim conhecer as catacumbas à Igreja de São Francisco . Esta sim, o verdadeiro do labirinto . Perdi a conta , perdi o fio à meada daqueles tectos onde numa das salas se via o símbolo da maçonaria . Cruzamos a grande cantina , com a ultima ceia ao fundo, cruzamos a gigante sacristia e o confessionário. Voltas dadas e descemos . Entre aqueles labirintos subterrâneos lá se vao vendo os acessos secretos às diferentes alas da Igreja.
Os ossos ,  esses, estao perfeitamente alinhados e empilhados em alas. Quase dava para sacar um recuerdo daqueles.
O guia empenhava-de em explicar como uns alemães vieram fazer um documentário e ao filmar apanharam umas formas paranormais por ali. Achando-se o guia da bola de ouro.

Bom, a fome apertava , mandou-de entao a famosa sanduíche de ramon del país, ou fiambre do pais , e de seguida pintamos quase sozinhas no museu arqueólogico. Deu pra ter uma noção do apanhado de todos os povos a habitar o Peru e pra ver de perto peças de ouro bem preservadas, finalmente.
Umas voltas de carro e o almoço fez-se em mira flores, de frente para o pacifico e com direito a petit gateau . À noite , parque das aguas ! Melhor parque se diversões de sempre nesta temperatura , com direito a projecções de danças tradicionais em água!

No dia seguinte a Rita acordou mal , com febre até. Quedamo-nos por casa e Lima nao nos deu mais de si graças ao voo que tínhamos dia 21 para Iquitos, porta da Amazónia peruana , nossa via de ingresso no Brasil











segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Ica-paracas

Tínhamos alguém à espera dia 18 em Lima. Até lá havia que filtrar: tínhamos Ica e Huacachina , o oásis lá perto em deserto plantado, e tínhamos a Reserva Natural em Paracas e as Islas ballestas.
Em pouco mais de 24h.
Este filtro fez-se simples. Primeiro critério: dinheiro , plata!
Assim que assentamos pé em Ica, apanhamos um taxi ( ou antes, o taxi apanhou-nos a nós) para Hucachina. Uuuh. Um oásis ! Uma sereia apanhada por um caçador no banho, depois de perseguida transforma-se em lagoa verde , suas roupas em dunas e se queda ainda hoje no fundo da lagoa.
Em sua volta restaurantes. A cidade comeu-se até lá, e uma estrada faz-nos chegar de logo .
Uma volta pelas dunas, uma omolete e está visto. Há que espremer , que sacudir e arrancar. Ha alguns dias nisto, o calo serve para bater terreno , e a beleza das coisas define-se em termos comparativos a partir do peso da mochila. Não sei definir quanto à valorização ou sobrevalorização deste lugar quando os meus olhos andam semi cerrados por não caber tudo na menina.

Voltamos a Ica ,  e de logo partimos para paracas . Num autocarro padrão fifa. Até pão com fiambre tínhamos . Bolivia eras .
20h paracas. Uma baita de um deserto naquele escuro , com um daqueles nomes de hotel luz vermelha ao fundo a piscar . Era essa a referencia do pseudo centro da vilinha estilo Algarve em Agosto. Cheiro de peixe !
Hostel encontrado, saímos para uns tacos de.. Frango! E a queda na cama foi certeira . Com autocarro para lima as 15h da tarde, tivemos de abdicar da reserva e optar pelas islas ballestas . 7h da manhã e uma terra que parecia outra. Turistas a tijolo , cevicherias a potes.
Estavam todos a dormir as 20h?
Amadores .

Nas ilhas, as fotos batem-se do barco. O pé não se poisa em terra, porque a terra da ilha é de leões marinhos obesos, pinguins e gaivotas  com estômago pequeno. O único humano é um voluntário que fica ali por um ou dois meses sem contacto com a civilização a nao ser umas caixas que sobem e descem destes barcos turísticos , possivelmente com comida e outras essencialidades.
Ouvidos fortes , os dele, que ficam embrulhados nos sons dos leões e das ondas .
Provavelmente olhos fortes também.
Gringos passamos por ali quase despercebidos , uns pescadores vão cometendo umas ilegalidades atras das rochas e os pinguins lá batem asa a seco.
Altos paraíso.

Passados uma das ilhas com um candelabro embutindo , estilo linha de nazca, voltamos finalmente para um ceviche: uma espécie de pescada crua, mergulhada em limão e cebola, com uma espécie de batata doce cá do sítio. De dois num negociamos meio prato de ceviche com meio de chiharron. Podia ser de frango. Mas nao era . Era do mesmo pescado. Nhamiii
Comemos à lords, fizemos um tempo e mochila nas costas para lima .
Primeiro autocarro com wifi!
Ai, civilização.
Na chegada , um tipo com "senhorita Rita Coreia " .
A gaja corou , nenhuma de nos teve coragem de fotografar










sábado, 18 de janeiro de 2014

Nazca

O regresso de aguas calientes fez-se pela mesma trilha, desta vez debaixo de um sol matinal e vozes desafinadas a soltar uns Tim Maia da vida e um Quim Barreiros da cena. Chegados à hidroeléctrica , nada de jaguares como prometido. Deveríamos sair as 14h e só perto das 15h apareceu uma carrinha ja quase cheia onde nos encaixaram quase de favor. O caminho fez-se longo e sem paragens até Cuzco.
Com fome , cheios de frio e sono , do autocarro ao hostel fez-se uma eternidade. Até que pouco antes de virar a esquina para o mais proximo que agora tínhamos de casa, eu ouço um " Inêêês" vindo do fundo da rua. Bom , estavam todos para trás. Parei o acelerado passo para ver o Pedro , com quem nos tínhamos cruzado de barco na Isla del sol , de braços abertos ja a dizer que se estivesse no piso debaixo do barco dele tinha saltado . Acredito no menino.
A sair da porta do hostel deles, o Meira . Olás e olé, abraços apertados, sorrisos abertos , mas barriga ainda vazia. Combinamos no nosso hostel , tínhamos preparado uma surpresa lá para o aniversario do Jorge que estava marcada para uma hora atras.
Correu tudo bem, banho quente + pizza na pressão , e todos boa juntamos no bar debaixo da faixa "parabens Jorge " e ao gosto de um potente bolo daqueles que nos fartamos de ver nas vitrinas da rua, gigantes e coloridos , que nunca pensamos em comer.
Pronto , ninguém ficou mal e dali a um dia os nossos caminhos voltaram a descruzar-se.
Pedro, Meira e ladys iam a Machu picchu ainda , Jorge , Conde e Miguel iam descer ate a Isla del sol , eu e a Rita subimos a Nazca

Apanhamos o  autocarro para  Lima , e depois de 13 horas que se fizeram 16h com a bexiga apertada alguém nos chama por passarmos em nazca. Fomos as únicas a sair , numa rua em terra, sem ponto de paragem, debaixo de uma valente tosta e sem vestígios de um
Hostel proximo . Desconfiei de um China que pintou ali logo para nos varrer. Sou desconfiada.
Mas desconfiança e cansaço nao combinam , entao a Rita mais optimista que eu , convenceu da coisa.
Tudo de boa , era um hostel limpo, nao muito caro, com um terraço todo cagado.
De tarde, uma volta de boogie pelos arredores, batendo terreno da cultura nazca , cemitérios abandonados e Cahuachi de pirâmides embaixo de areia.
Na parte de trás do boogie ainda haviam umas sandboards, que fomos usar lá nos fins dos mundos, de onde voltamos com areia em cada poro.

No dia seguinte chega a vez das linhas. Nao ha dinheiro pra vuelos, entao fomos ate aos miradouros.
Estendendo-se por quilómetros, o que para uns pinta obra de aliens , parece bem mais com obra nazca . Traços dos solstícios e equinócios , imagens de uns sacerdotes nas colinas e, gigantemente falando, os símbolos do zodíaco para Deuses verem lá de cima.
Reiche , que só podia ser Maria, veio pra cá por volta dos '40 e ficou até a morte , com a sua pão de forma no meio do nada com uma vassoura a limpar os contornos das linhas e assentar tudo em mapa.
Cancro na pele, parkinson e sei lá mais o quê levaram a senhora a morrer aos 90 e picos, ali mesmo, num cubículo que visitamos e que para a dama de nazca era casa.
Obra de Alien , isso sim.

Tour finda, com uma loira penetra a bordo qu com certeza tinha pitado o nosso guia a noite anterior, partimos para o mercadito, sempre em altas com olhares focados nas duas gringas branquelas para adquirir pão .
Passo seguinte Paracas para as islas ballestas e bilhete para Lima ainda no mesmo dia