domingo, 3 de novembro de 2013

dê éfe

"Cidade sem ruínas" e com 360º de horizonte. Saio de avião do avião planejado, saio no assento 10D do voo JJ3109 vinda da Asa Norte, Bloco A, dum prédio com 6 andares sem barreiras, como manda o plano piloto. Brasília das não rotundas ou cruzamentos, sem passeios e onde ciclistas só ao domingo na pista fechada. Duas asas, 8km cada, e para aqui voaram sangues para poisar em saco eclético. A ordem chegou ao urbano caos, os sotaques misturam-se ao encaminharem-se para o ponto mais central da nação, à procura de não sei o quê: estranhamento contínuo em profundidade numa cidade sem acervo para a biblioteca. Bem vindos ao futuro do cimento. Tudo o que vejo é uma solução, talvez a mesma que encontraram os gregos. Tudo funciona, tudo faz sentido, tudo descomplexificou as buzinadelas. Há verde, há restauro, há vida activa. Há toda uma resposta estudada e genial que culmina em casas de vidro com aulas de ioga, em açaí ao pé do lago artificial, em minimalismo de traços e skaters com 4 anos.
Nada roça o parecido com nada. O mar não se vê de lado nenhum, o pôr do sol vê-se de todo o lado.
O longe parece perto, mas daqui ali foram sessentapila de táxi, com o motorista disposto a ensinar-me a língua do amor, e três brasileiras damas dos forrós a tentarem convencer-me que "chifrar" fazia parte da natureza. Mas só da mulher. Porque os namorados delas tão proibídos de sairem sozinhos.
Bom, pelo menos, pago o táxi, ainda deu pra uma picanha com mandioca na barraca de estrada, qual kebab ou cachorro.
                                                                                                        Intensa semana.
Assimilei um cruzamento de culturas dentro de um país como se fosse um choque interestelar. Aprendi imenso com as explicações aprofundadas e pacientes do Yuri de Salvador, com as dicas de moda da Karol de São Luís, com as selfies que tirei com o Lucas de Recife e com a postura de advogada efeverscente da Sofia carioca. Fui acolhida enquanto portuguesa de portugal, e o cansaço de repetir mil vezes o que dizia e ter de explicar as minhas melhores piadas compensou na hora de questionar, de ouvir, de debater, de me encaixar a realidade que me tem acolhido. Foram óptimos comigo, e senti uma ponta de orgulho de integrar aquele grupo, decidido e confiante, preocupado, conhecedor. Estavam ali por uma causa mais nobre, e espero que a avioneta aproveite estes pilotos: dos plenários à happy hour. "Happy Hour" a forçar os novatos a agirem como pseudo funcionários públicos do distrito federal. Não importa, porque o Jonas tá lá pra tirar bilhete, o Caio tá lá para partilhar umas batatas nojentas com um queijo manhoso, a Rapha tá lá pra invejar os meus ténis. Bora todos apoiar os índios!
Era a única animada com isso. Nunca tinha visto índios, ainda por cima dentro do Supremo Tribunal, com flashes por todo o lado e entre discursos exaustivos. A reserva raposa serra do sol discutia a demarcação de territórios. Estradas a cortar pelo meio, escolas. É complicadito. Estes são índios coca cola, que usam ipads e smartphones e conduzem jipões. Mas se assassinarem alguém, no Brasil, não são presos por isso.

Foi uma coça de informação.


Pedi uma esfirra ao calhas, e a gaja diz que " No sul não têm disto". Ouviu-me e achou pelo sotaque que eu era do Sul do Brasil. Sério? putz!
Comer no táxi - fartei-me de andar de táxi - e bora pra um estádio sem equipa de futebol ver aerosmith. Já tá a servir pra alguma coisa! Pena que lá de cima o som seja uma merda. Acho que deviam investir no futebol mesmo - oh wait..
Mais um pontapé brasileiro. Ainda por cima comem pipocas salgadas. blheeeck
No dia anterior tínhamos ido comprar os "ingressos pro show" e não "os bilhetes pro concerto". Crachamos num cafézito, com aquele cansaço de desabotoar camisa e tirar sapato que dá um arrepiozito estranho de adulto, estava eu a olhar pela janela do café, e vem a caminhar o Marlon.
O Marlon é um rapaz brasileiro, um guri, que foi estudar pra FCSH em intercâmbio. Acabou por ficar uns dois anos, a ultima metade em erasmus italiano. Da última vez que o vi, estava triste, cansado, farto - queria voltar para casa, em Santa Catarina. Pois é: tinha falado com ele umas semanas antes, e ele tinha-me dito que não estava em SC, não nos poderíamos encontrar. O gajo tava em Brasília, e eu também. O gajo tava a voltar para casa depois de um dia de merda num curso de merda, estava outra vez farto e cansado, mas passou ali, no momento do meu unhappy hour. Saí a correr dali, disparada, mandei um berro, ele hesitou. E depois eu hesitei "será que nao é?" Claro que era, PORRA. Não me reconheceu de imediato - porque eu era a Inês de pãofiel, como ele dizia, e não era suposto um cruzamento destes. Trouxe-o para dentro entre abraços e meios histerismos - porque eu nao sou dessas cenas e ficamos ali, só a aproveitar a cena, com um sorriso de orelha a orelha. Trocamos números, mas a minha vida foi demasiado randómica para um segundo encontro. Obrigada pelo alinhamento de cosmos. Soube-me pela vida!

Para rematar a semana, aprochegou-se o quentinho de uma família de sempre, de braços abertos para mim, até a Kitty cadela, que se empenhava em explorar  a minha mala. Fizemos grande rota gastronómica, assumindo que a portuguesa tá habituada a um certo padrão (a morrer por pataniscas). E, mais uma vez, marquei uma casa no meu mapa zuca, que sei que tem sempre  porta aberta. E o frigorífico.
Cheguei de lá em dívida, só paguei em canções e obrigados.
E em português.





                                                                                                   Catedral








                                            Museu Oscar Niemeyer





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                                                       Memorial JK



                                                      Palácio Itamaraty
                                                      Senado Federal

                                                     Lucas de Recife

                                                                                                Yuri de Salvador

    Sofia meia de recife meia carioca meia portuguesa



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