quarta-feira, 20 de novembro de 2013

fav..comunidade. co-mu-ni-da-de

      O dia era para ter sido de praia, todo ele. Mas as condições metereológicas nesta ilha são imprevisíveis, tal como tudo o resto é. Então a Rita mandou mensagem, a guria é aprendiz de arquitecta e conseguiu um contacto para nos mostrar a favela do morro da mariquinha: "pártxiuu"
Troquei de calças 3 vezes. O meu conselheiro de moda barra surfista barra housemate disse nas primeiras que mais uma camisa podia ir trabalhar. "Hun. Muito Patricinha". Tá, vão umas de ganga. Ai, esperem, são Levi's..eeee tá um bafo lá fora, leggings sejam.
Diz-me o Conde que nem deveria ter o cabelo lavado.

      Subimos as escadas infinitas, num silêncio estranho entre arfares e um espanta espíritos numa casa gradeada. Só chutei que aquilo "era bom para os glúteos", dois risinhos, e a subida continua. Na mão, uma caixinha preta Panasonic para a Rita tirar algumas fotos. O Andersen encontrou-nos na entrada da favela.
      Ponto 1: " Não gostamos da palavra favela. Bem vindos à comunidade."

Na entrada, a lixeira comunitária, com recolha três vezes por semana. Claramente nenhuma delas foi hoje. À direita, mais uma estrutura manhosa a ser erigida. A vista? Linda. só linda.
Apetecia sacar de uma borracha daquelas metade para caneta metade para lápis, e com a parte mágica apagar os prédios da cidade, t-o-d-o-s. Deixava o verde e o azul, a Hercílio Luz, os barcos, e pouco mais: Voilá - a minha cabeça levou-me lá, e ficou bonito.
          "Esperem, ainda é mais bonita lá de cima" Mais cima? tipo cima cima?

Não era confuso, não haviam crianças, mulheres de língua comprida ou homens em tronco nu. Não se via ninguém. O Andersen explicou que tava na hora da lavoura: talvez fosse.
Bem devagar, continuamos a subida. Adivinho uma média de 4 blocos sobrepostos de cimento, 5 colunas por 3, a suportar as casas. "Cada um faz o que entende. Mestres de obras, sabe?" Sei. E a mesa que perdeu as pernas para dar suporte a uma entrada também sabia.

Entre vultos momentâneos nas janelas e degraus a pacotes, perdi a conta às obras dos Mestres. Nasciam casas por todo o lado. Mas a conta não se perdeu só aos degraus e às casas. Perdeu-se a conta às pessoas. Mercearia e lixeira isso sim, sabia-se decorado: uma de cada, para toda a gente. E os salgadinhos da Dona Maria, que saem 100 a 30 reais por encomenda.

Dobramos uma esquina. O Andersen cortou reto à esquerda - logo agora que estavamos a descer.
Ali estava ele, pomposo falcão, de calção beje e chinelo roto. Cara forçada de adulto de 14 anos a absorver a informação sentado numa pedra, com boa vista, tal como convém. "Olheiros" , como eles dizem. O puto olhava, mas de esgelha. Hora do retorno.

Subimos à humilde casa do humilde Andersen, estudante de Administração graças às quotas sociais. Desistiu de arquitectura na 6ª fase. Ele gostava de desenhar, e confundiu-se com um desenhador de casas.
Água fresca e a melhor vista de Floripa depois do Sambaqui. Diferença: aqui não se chega a pedir boleia.
Insistiu em controlar bandite, o cão que nem ouvi ladrar. Insistiu que havia um coração de um rei numa igreja em Portugal que queria ver e do qual eu nunca ouvira falar. D. Pedro, na Lapa. Confirma-se. Vergonha a minha.

Hora de descer depois do bate-papo com a prima de 15 anos viciada em anime e a avó que nos tirou uma foto com um poste à frente. Somos de facto bem mais lindos que a vista sobre a cidade. Era só puxar a máquina um bocadiiinho pra cima. Mas ela sempre esteve encima, na sua janela com o mesmo quadro de sempre, mais prédio, menos barco que passa. O bonito ali não era a cidade, eram as visitas.
Certíssima.

Não trouxe cicatrizes e histórias mirabulantes.
Talvez do morro da cruz, que ficou no ar para exploração, eu traga um cortezinho no dedo do pé ao tropeçar em tanta escada. nãoesquecerdeirdechinelo

Muito amor,






Nenhum comentário:

Postar um comentário